"O poder é a pior de todas as drogas."
- Elke Maravilha
Na casa da minha avó, quando criança, os domingos à frente da TV passaram a ser dedicados ao SBT do Silvio Santos, após o falecimento do Chacrinha. E quem assistia ao Show de Calouros do Abravanel não era capaz de resistir ao carisma e irreverência da Elke. Espalhafatosa? Sim. Exagerada? Sim. Porém sempre muito pertinente.
Minha mãe dizia que a Elke era uma figura sensacional. Filha de russos que fugiram das monstruosidades sanguinárias do Stalin, virou apátrida após o golpe militar de 1964 e a implantação da ditadura de direita no Brasil (afinal de contas, ela era russa de nascimento e "filha de comunistas"). Dizia que ela era na verdade muito inteligente, que falava várias línguas e que essa "persona" extravagante era uma forma de chamar atenção na mídia.
No final de 1993 nós nos mudamos de Campo Grande, no Rio de Janeiro, para Niterói. Eu tinha 14 anos e aquilo tudo era um mundo completamente alienígena para mim. A cidade era diferente, as ruas desconhecidas, as pessoas até falavam de forma diferente, com gírias e coloquialismos estranhos ("patricinha" era "periquita", você ia na casa "de fulano", não "do fulano", entre outras coisas). Tinha um cara que andava de bicicleta vestido de índio com arco e tacape (eventualmente passou a ser chamado de "Pocahopa"). De vez em quando pacientes do Hospital Psiquiátrico de Jurujuba iam às ruas exibir suas maluquices. Nada em Niterói parecia fazer sentido.
E lá também tinha a Elke Maravilha.
Esbarrar com ela na rua era um evento. Não por que ela seria "aquela pessoa" da TV - e ela era sim, pois sempre foi uma mulher muito autêntica. Mas sim por que você confirmava que além de todas as qualidades em torno de si que foram vendidas pelas histórias da minha mãe, que ela era uma criatura feita de puro amor e simpatia.
Hoje ela se foi, para deixar muitas saudades em pessoas que conheço e eram próximas dela, de sua família. Infelizmente eu não sou uma dessas pessoas e não posso confortá-las pessoalmente. Mas talvez a lembrança de toda a alegria e exuberância de uma das personas mais marcantes que o Brasil já teve a honra de acolher e acalentar, isso podem ter certeza, ficará para sempre.
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