Já faz um bom tempo que o humor brasileiro apenas atinge as manchetes por motivos não tão engraçados. Uma piada politicamente incorreta ali, outra racista aqui. Talvez um comentário danado de infeliz, salpicado de malícia e um pouco de falta de noção. Enfim, o quê diabos está acontecendo de errado com o humor brasileiro?
Nada. Nós sempre fomos assim, a diferença é que com o mágico avanço da internet, a quantidade de multiplicadores e opinião e críticos aumentou avassaladoramente. Antes todo mundo só comentava sobre o esquete novo do “Zorra Total” ou o antigo de “A Praça É Nossa”. Voltando mais ainda no tempo, lembremos de esquetes do Chico Anysio, do Jô Soares, dos Trapalhões, as piadas do Ary Toledo, do Juca Chaves e do saudoso Costinha. Poderia ir além, mas vejam bem, eu nasci em 1978.
As piadas são as mesmas. Os humoristas são os mesmos. O povo brasileiro continua dando atenção para as mesmas piadas sexistas, racistas, violentas, de mau gosto. Entretanto hoje, ao invés delas serem coadjuvantes para o talento excepcional de poucos, são o prato principal da maioria. Quando criança, lembro com clareza das mordazes e corajosas piadas sobre políticos do Chico Anysio. Entretanto, para chamar a atenção de muita gente, ele precisava colocar em seu programa uma ou outra gostosona com roupas curtas e apertadas.
Antes alguém poderia dizer: “quer ver mulher pelada? Vai ler a Playboy!” Era verdade. Hoje a coisa é maior ainda. “Quer ver mulher pelada? Entre no Google.” O mercado de pornografia e nudez na internet é tão farto quanto gratuito. Então não ajuda muito que os comediantes usem o velho artifício da mulher gostosa pra chamar atenção, não é? O que sobra para eles?
Serem polêmicos.
Quando mais audiência damos para pessoas que usam a muleta da polêmica para sustentar suas carreiras, mais nos rebaixamos. E muitos destes humoristas descobriram seu grande filão e público justamente entre os internautas, que os amam à mesma velocidade que os odeiam, quando falam algo de seu desagrado.
Não sou contra esta estratégia, acho inclusive muito válida, para quebrar os paradigmas convencionais da ditadura da mídia vigente no Brasil. Isso não significa que eu admire estas pessoas e muito menos que apóie o que elas dizem. Mas há de se admirar que, com tanta gente batendo palmas ou vaiando cada um dos seus gracejos públicos, que poucos tenham percebido que eles usam a velha e boa estratégia do “bem ou mal, mas falem de mim”, dando a entender que não queriam isso em primeiro lugar.
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