Incentivado por um post do Flavio no facebook, tive a idéia de escrever outro post bem longo, dizendo quais seriados eu e a Clara estamos vendo no momento (ou acompanhamos quando são liberados):
American Dad, Cleveland Show e Family Guy: todos os desenhos criados e produzidos pelo Seth MacFarlane são sensacionais. Muitas pessoas acham que eles são de extremo mau gosto, ofensivos, grosseiros e indecentes. Eu gosto deles assim mesmo - pouca gente tem carta branca na televisão mundial para falar o que quiser, da forma que quiser, como a trupe do MacFarlane.
Being Human: assistimos à versão original produzida no Reino Unido da série. Comecei a assistir por indicação de um amigo, achei que seria mais uma baboseira no estilo de "Crepúsculo"... Mas é uma série de terror e suspense muito bem escrita, com ótimos personagens e uma trama cativante. O fato de seriados ingleses terem poucos episódios por temporada (Being Human teve 6 na primeira e 8 na segunda e terceira, se não me engano), dá mais liberdade para o roteirista focar em escrever uma boa estória e não ficar enchendo linguiça, como é hábito comum nos seriados americanos. Altamente recomendável.
Big Bang Theory: sim, eu assisto. É engraçado, eu só não enxergo neste seriado toda a genialidade que alguns professam. Basicamente o seriado se sustenta em esteriótipos... É como rir de um palhaço. Chega a ser previsível, mas ainda assim, é engraçado.
Bones: comecei a ver por causa da Clara, ela foi quem assistiu às primeiras temporadas. Após um fortuito empréstimo de um box com 4 temporadas do seriado, acabei viciando também. Muitos dirão: "é apenas mais um seriado policial" ou então "é mais uma cópia do CSI". Para início de conversa, uma boa estória tem que ter bons personagens - e isso "Bones" tem de sobra. CSI e a maioria dos seriados policiais não. Acho que é por isso que "Bones" me cativou.
Borgias: este seriado só teve uma temporada até agora e se me lembro bem da verdadeira história dos Bórgias em torno do Papa Alexandre VI, não devemos ter mais do que uma temporada pela frente. Ainda assim, para quem gosta de personagens bem representados, uma ótima produção no tocante aos figurinos de época, ótimos atores e boa direção, "The Borgias" é a pedida.
Game of Thrones: seriados da HBO tem um toque de qualidade sensacional. Ver esta primeira temporada, baseada na série de livros "A Song of Ice and Fire", do George R.R. Martin, me incentivou a comprar os outros livros já lançados (estou no início do 4º livro, sem spoilers, por favor). Aqueles que acham que esta é uma série de aventura fantástica medieval se enganaram: é uma série de aventura fantástica medieval, cujo foco é intriga e política. A visão sombria do George R.R. Martin e seus personagens de moralidade cinzenta são sensacionais.
Grey's Anatomy: é, eu vejo. Algum problema, vai encarar? Não sei qual é o preconceito em assistir a um seriadozinho de hospita e dramas sentimentais. Pronto, agora que admiti publicamente que vejo "Grey's Anatomy" estou me sentindo melhor.
Grimm: premissa interessante, comecei a ver este seriado policial que leva um detetive, um dos últimos descendentes da família Grimm no mundo, a lutar contra criaturas sobrenaturais e monstros dos livros de contos de fada, que andam entre nós e são muito mais medonhos que nos filmes infantis da Disney. Ainda estamos vendo como o seriado se desenvolverá, pra saber se vale a pena acompanhar.
Happy Endings: outro seriado que a Clara começou a assistir, apesar do nome meio infeliz. Gostei dele, a princípio você acha meio pretensioso, uma espécie de tentativa de fazer um novo "Friends". Mas o roteiro é legal e os atores engraçadinhos. Destaque para o filho do Damon Wayans (de "Me, My Wife and Kids"), que é um dos mais engraçados no elenco.
IT Crowd: se você acha "Big Bang Theory" engraçado, veja este seriado inglês. As piadas são mais inteligentes, o humor é muito mais amplo, com menos esteriótipos e os 3 atores principais são incríveis. A história é sobre dois nerds que trabalham no departamento de informática de uma empresa, e a gerente deles é uma patricinha que não entende nada de computadores, mas é boa para lidar com pessoas, então eles tem uma relação meio simbiótica. Humor inglês, negro e mordaz, é o melhor de todos os seriados que assisto e recomendo que todo mundo veja pelo menos um episódio. Da última vez que lancei este desafio, duas pessoas assistiram uns 4 episódios em seguida, quase chorando de rir. É boa terapia.
Mad Men: me surpreendeu. O motivo para começar a assistir este seriado foi, além do figurino de época, a sensacional bombshell Christina Hendricks. Mas a série é simplesmente brilhante, em todos os quesitos. O elenco é de primeira classe (destaque para o protagonista Jon Hamm, uma grata surpresa), o texto muito bem escrito e a retratação de época, apesar de soar caricata em alguns momentos, é muito boa. Mais um seriado que recomendo para todo mundo que gostam de um pouco de intriga e de ver os personagens principais praticamente se devorando o tempo todo (não estou falando de sexo, ok?).
Mentalist: este seriado nada mais é que uma versão nova para as aventuras de Sherlock Holmes. Claro que seu roteiro não é baseado nos livros do Sir Arthur Conan Doyle, mas os personagens principais são. Patrick Jane é o Mr. Holmes, caótico, sempre usando métodos anticonvencionais e obstinado. Teresa Lisbon é o Mr. Watson, o "braço armado" do investigador, acostumada com métodos tradicionais e forte respeito hierárquico. Claro, não são apenas os dois. Além disso, a nova roupagem dada ao personagem principal desta trama "sherlockiana", colocando o Jane como um charlatão arrependido em busca de vingança contra o serial killer que assassinou sua família (seu nêmesis, "Red John"), é muito bem estruturada. Poucos episódios durante uma temporada fazem referência à trama central em torno da relação de Patrick Jane com Red John, mas cada detalhe perdido, cada personagem secundário que passa desapercebido, podem ser peças do quebra-cabeça que de vez em quando é colocado em evidência. Altamente recomendável.
New Girl: mais um seriado novo que começamos a assistir agora. A premissa é de uma linda garota que é completamente nerd, piradinha e cheia de manias esquisitas, que termina com o namorado e acaba indo dividir apartamento com três homens solteiros. Ok, batido. Quando li uma resenha, achei até meio triste que a linda e talentosíssima Zooey Deschanel tivesse aceito protagonizar esta série. Mas vimos o primeiro, o segundo, o terceiro episódio... Pra começar, é mais um seriado de comédia que não tem aquelas "risadas de gente morta", indicando quando você deve rir. Isso é corajoso. Em segundo lugar, apesar de todas as chances em contrário, "New Girl" é bom mesmo. Isso se deve em boa parte ao brilho pessoal da Zooey Deschanel e sua coragem em fazer coisas estranhas e esquisitas, sendo ao mesmo tempo adorável. O resto vai se encaixando aos poucos.
Once Upon a Time: espero com muita sinceridade que esta série, escrita e produzida por alguns dos principais responsáveis por "Lost", não saia dos trilhos. A premissa é muito legal, com os personagens dos contos de fadas "presos" no mundo real contemporâneo e a filha da Branca de Neve e do Príncipe Encantado sendo a única pessoa capaz de quebrar esta maldição. Mas vejamos até onde isso vai funcionar. Quem sabe eles na verdade não descobrem que estão presos numa realidade alternativa do futuro e que na verdade todo mundo morreu? Podemos esperar de tudo.
Simpsons: muita gente diz que os "Simpsons" já deram, que não tem mais graça, que estão ultrapassados. Essas pessoas não devem assistir a série há um bom tempo. Desde que os personagens do Matt Groening completaram 20 anos na televisão, me parece que os roteiristas ganharam mais liberdade para falarem o que querem, e um seriado que já prezava pela irreverência, agora está mais surtado ainda. Sugiro que quem abandonou a família mais querida dos EUA nos últimos anos, volte a ter contato com eles, para ver o que estou dizendo. É surpreendente que uma série com 23 anos de idade continue me fazendo rir e me divertindo... E isso desde os meus 11 anos.
Spartacus: que descoberta. Quando me contaram desta série, foi frisado o fato de que os produtores responsáveis por criações como "Shena" e "Hércules" estavam por trás dela também (Sam Raimi sendo o produtor principal). Inclusive a própria Shena, a atriz Lucy Lawless, está na série. Logo, fiquei com medo que fosse mais uma produção simplória e mal feita como "Shena" e "´Hércules". Bobagem. O seriado é muito bem feito, tem bons atores e muita, muita ação, para dar e vender. Também tem violência e sangue transbordando. Esta foi a maior crítica à série que a mídia fez, inclusive ela está cheia daquelas cenas "mentirosas", com sangue voando aos litros ao menor cortezinho de espada que um gladiador recebe, mas dane-se. Eu acho legal.
Two and a Half Men: temos aqui uma grande pergunta. "Two and a Half Men" era um seriado bacana, com boas atuações do Jon Cryer e as loucuras do Charlie Sheen. Mas aí o Charlie Sheen perdeu o controle e foi removido da produção. TAAHM funcionaria sem seu personagem principal, ao redor do qual toda a trama girava? A resposta é: está funcionando. Para o lugar de Sheen, foi contratado o caricato Ashton Kutcher. Um novo foco em torno do sempre ótimo Jon Cryer e um roteiro mais baseado em humor fugindo das velhas piadas padrão do personagem de Sheen, que invariavelmente eram sobre álcool, drogas, sexo e mulheres, simplesmente tiraram a série do 10º lugar entre as mais assistidas nos EUA, para o 3º lugar. Winning!
26/11/2011
22/11/2011
16/11/2011
SWU 2011
Fui ao Festival SWU durante o feriadão, no dia 14/11, e o que se segue é o meu relato - primeiro dos shows, e em seguida da infraestrutura do evento.
Graças à inclusão social em massa, hoje em dia todo mundo tem uma opinião, entretanto poucas pessoas conseguem estruturá-las com o mínimo de coerência. Ler os comentários das pessoas no facebook e no twitter me irritou um pouco, especialmente pela superficialidade dos mesmos e pela falta de embasamento de alguns locutores.
O troll diria: "não gostou? Então faz melhor!"
Faço sim. Mas segura aí, talvez seja o post mais longo que já escrevi aqui no blog. Entretanto, notem que estou descrevendo apenas aquilo que eu vi ou presenciei.
Raimundos
Infelizmente perdi o show dos Raimundos. Nós estávamos saindo do estacionamento (que era muito, muito longe da entrada do festival) quando este começou. Ao invés de falar do show, darei meu testemunho: eles foram uma bandas que mais escutei durante minha adolescência, pois cativavam com sua rebeldia caótica, desbocada e que mistura com sinceridade rock e ritmos brasileiros, com uma originalidade que muitos tentaram simular, mas quase ninguém conseguiu. Sim, o Rodolfo saiu da banda, muitas águas se passaram e os caras perderam o gás, alguns dirão. Não sei, terei que ver o show pela televisão numa reprise. Mas torço para que o Raimundos continue firme e forte.
Duff McKagan's Loaded
Eu gosto do Guns N'Roses, mas não sou um grande fã da banda. Minha irmã do meio é. Já o Duff, depois que ficou limpo, me parece ser um cara legal. Ele era o centro "punk" do GN'R, e na sua banda Loaded isso fica muito evidente. O som dos caras talvez não tenha sido feito para um grande festival com 70 mil pessoas. Se a apresentação fosse num clube menor, como o Manifesto Bar em São Paulo ou o Circo Voador no Rio de Janeiro, talvez a história fosse diferente. Eles tem uma boa pegada, tem ânimo e parecem querer fazer com que a banda dê certo.
Black Rebel Motorcycle Club
O BRMC talvez seja uma das bandas de rock mais interessantes que surgiram nos últimos 10 anos - eles misturam elementos de rock clássico com uma vibração cheia de originalidade e bom gosto. Peso na medida certa, músicas empolgantes, bom instrumental, mas infelizmente o show deles não traduziu isso para o público. Talvez a escolha de repertório da banda não tenha sido a melhor, mas o show meio que passou em branco e não atraiu a maior parte do público que ainda chegava e explorava a área do festival. Mas é uma boa banda e que merece mais atenção.
Down
O quê dizer? Eu amo Pantera. É uma das maiores bandas de metal que já surgiram na história, inclusive costumo dizer que eles fazem parte dos "Renegade Four" do thrash metal (Pantera, Testament, Exodus e Sepultura, caso alguém queira saber, mas isso é coisa minha). Entretanto, o Phil Anselmo não pode passar o resto da sua vida apenas colhendos os frutos do seu trabalho com o Pantera. O Down é legal, tem muitas músicas maneiras, mas no geral, o show foi repetitivo e linear. Não percebi nenhum grande momento, nenhuma grande tirada e Phil, torto de tanto beber (o quê o Rex Brown diria agora se te visse, hein?), apesar de empolgado e feliz, não segurou tão bem a onda.
311
Não vou negar que o instrumental dessa banda era legal. Bem executado, e os frontmen do 311 pareciam estar realmente felizes e empolgados com o show. Mas a grande falha da banda são as músicas deles - que saco! Parece que eles pegaram aquela fórmula fraquinha e repetitiva de grupos como o Linkin Park e Limp Bizkit, jogaram no liquidificador com Simple Plan e Blink 182, deram uma açucarada de animação da Miley Cirus e se prepararam para uma apresentação ao vivo no Disney Channel. Muito fraco, muito piegas.
Sonic Youth
Pra mim o festival começaria a engrenar com o Sonic Youth. A lendária banda americana entrou com tudo no palco, apesar dos cabelos grisalhos e das rugas, com uma energia e pique incríveis. Há de se respeitar o Sonic Youth pela sua capacidade de experimentação e coragem ao longos do anos, o que eles ainda demonstram. A performance do grupo foi tudo o que poderíamos esperar - animada, intensa, autocentrada. Existe uma diferença entre quem faz arte e a compartilha com o mundo e quem apenas tenta agradar os fãs (ouviram isso, 311?).
Primus
Qualquer coisa que eu escreva sobre o Primus não será suficiente. Les Claypool (o baixista, líder e dono do Primus, em termos gerais) é um gênio. Além de ser um instrumentista incrivelmente virtuoso, ele realmente tem jeito de gênio maluco. O som do Primus era, sempre foi e continua sendo louco, incômodo, estranho, inconveniente. O baixo de Claypool dispara uma constante cacofonia de notas em escalas alienígenas para o fã comum de rock e metal, mas ainda assim, tudo parece ter um sentido no Primus, mesmo que não seja aquele que nós esperamos.
Megadeth
Existe um motivo para o Megadeth ser o Megadeth. Há cerca de dois meses atrás o seu líder, Dave Mustaine, operou o pescoço por causa de um problema que o acompanhava há anos e o forçava a tomar analgésicos quase todo dia. Ele é um homem com 50 anos de idade e a turnê na América do Sul ficou ameaçada. Então Mustaine passou dois meses fazendo intensa fisioterapia pra poder vir pra cá. Ele não precisa de dinheiro, já tem suficiente. Não precisa de reconhecimento. O quê ele quer então? A palavra é superação. Não me interessa se você acha que o Dave Mustaine é um babaca, que o Metallica é melhor do que o Megadeth, a lição de verdade estava lá, naquele palco, como em todo show do Megadeth: uma banda tocando o melhor thrash metal possível, sempre. E por isso, Dave Mustaine e sua incrivelmente competetente trupe tem minha total admiração. Foi muito legal ver o Junior (Dave Ellefson) de novo na banda, ele tem uma sintonia muito legal com tudo o que é do Megadeth e nunca deveria ter saído do seu lugar. O Shawn Drover nunca deixa a desejar na bateria e Chris Broderick fica melhor a cada dia, não permitindo que os fãs sintam falta do Marty Friedman. Se você algum dia quiser aprender o que é um verdadeiro show de thrash metal, veja o Megadeth.
Stone Temple Pilots
Eu já tinha recebido referências muito boas do Stone Temple Pilots ao vivo e vou admitir: os caras supreendem em cima do palco. Eu achava que eles seriam meio burocráticos, que dessem "aquela enganadinha" pra cima do público, mas não - a banda além de ter um entrosamento muito raro no meio da música, segura a onda e o pique do show com excelência, equilibrando seus clássicos e hits ao longo da apresentação. Em um palco simples, sem frescuras e sem grande produção, com um público encharcado pela chuva mais forte do dia, o Stone Temple Pilots mostrou que não é uma banda caça-níqueis, que tem muito a mostrar ainda pela frente e muitos anos de estrada, pois eles conhecem os elementos básicos de um show: ter uma banda tocando música para um público. E isso eles executaram incrivelmente bem.
Alice in Chains
Esta era uma das bandas que eu mais aguardava no festival. Não apenas pelos clássicos da minha adolescência, mas pela curiosidade de os ouvir com um vocalista novo, fato raro em bandas "top" (no caso deles, forçado pela morte por overdose do Layne Staley). O início do show apresentou muitas músicas novas, o trabalho do último disco da banda e não empolgou tanto. Mas aí lá pra metade da apresentação, a guitarra do Jerry Cantrell puxa "Man in the Box"... E o SWU vai abaixo, cantando a música em coro. A partir daí, foi um clássico atrás do outro e o fato do novo vocalista William DuVall cantar as músicas com tanta propriedade só deixaram o público feliz e com a certeza de que depois daquele momento, o Faith no More não poderia vacilar para superar uma apresentação tão intensa.
Faith no More
Mike Patton e sua trupe não vacilaram. Aliás, pelo contrário. O show começou com estranheza, pois toda a banda estava vestida de branco e havia muitos vasos de flores espalhados pelo palco, como se este fosse um jardim. A maior parte do público ficou dizendo que "eles passaram na Bahia" ou então "eles montaram um terreiro de macumba no palco", mas a impressão que eu tive, bastante nítida, era que aquela produção simulava uma festa tradicional grega. No estilo "Zorba o Grego", inclusive o Mike Patton em vários momentos imitou uma dança que me parecia mais ser grega do que macumba. Mas o que importa é a música, não é verdade? Claro que não. O Faith no More é uma banda gigante no palco com sua música, mas o Mike Patton é a única estrela. Ele rouba a cena, esperneia, grita, se joga no chão, pula em cima dos câmeras, cospe, baba, tira sarro do público... Ele não pára nem um minuto e entre urros e exclamações desconexas, canta com uma voz soberba. Sim, a banda é formada por cinco caras, mas no palco você praticamente só vê Patton com outros quatro amigos. E olha que estamos falando de um grupo que tem Mike Bordin, Billy Gould e Roddy Bottum, que podem fazer parte de qualquer "dreamteam" musical. Em suma, foi um show quase perfeito, com setlist ordenado cuidadosamente e na medida certa para manter a platéia de pé e firme madrugada adentro.
Festival SWU
Olha, o local dos shows era muito legal. A organização com os dois palcos na mesma área, com intervalo de no máximo dez minutos entre cada apresentação das bandas principais é um sistema que funcionou muito bem na segunda-feira dia 14/11. Os problemas técnicos limitaram-se ao palco onde tocaram Load, Down, Sonic Youth, Megadeth e Alice in Chain, pois ao longo do dia o sistema de PA ficava aumentando e abaixando o som bruscamente, ou então reduzindo os agudos do nada. Tirando isso, tecnicamente, o festival está de parabéns.
A oferta de alimentos e bebidas era farta e não era tão cara como em eventos similares, tal o "Rock in Rio." Um copo de água custava R$ 5 e um copo grande de cerveja Heineken saía por R$ 7. Eu mesmo tomei uns 4 ou 5 copos (de cerveja, claro). Quem está acostumado a frequentar shows e eventos do tipo sabe que os preços por uma cerveja, água ou refrigerante, podem ser bem piores. A área dos shows, asfaltada, foi de uma providência sem tamanho, pois mesmo com toda a chuva que caiu ao longo do dia nós não fomos forçados a chafurdar na lama.
O mesmo não aconteceu com o estacionamento.
O estacionamento do SWU era num PASTO. Sim, isso mesmo. Nós paramos os carros na grama meio enlameada e de lá tivemos que andar muito até chegar na entrada do festival - a saída do estacionamento era muito, mas muito distante da entrada do evento. E no retorno ao carro uma surpresa: o estacionamento virou um lamaçal e os carros que tivessem mais de duas pessoas dentro estavam atolando ali. Sem nenhum suporte além de um trator e vários funcionários completamente desnorteados, as pessoas tinham que tirar seus carros do estacionamento na garra e no braço mesmo.
Pra piorar, os policiais de Paulínia estavam multando quem parasse na rotatória, logo na saída do estacionamento, para pegar seus amigos que vinham andando da saída do festival. Eu vi uma policial multando um monte de gente silenciosamente, realizando todas as anotações escondida - bastava que você parasse seu carro por 10 segundos, que tomava uma multa.
Além disso, foi um inferno chegar no SWU de carro. Todas as placas indicativas estavam mal posicionadas e nós demos muitas voltas pra conseguir achar o tal "estacionamento" acima mencionado.
A música oferecida pelo evento foi soberba, no balanço geral. Mas se o próximo SWU tiver uma estrutura logística tão boa quanto a do atual, ano que vem a vontade que eu tenho é de ficar em casa. Mas vá lá, quem sabe eles não anunciam o show de reunião do Savatage ou do Black Sabbath? Aí não tem jeito. Viro novamente um refém no pasto.
Fotos: Divulgação, Jornal do Brasil e Pedro Carrilho, Marcos Hermes, Caroline Bittencourt, Flora Pimentel para o Território da Música.
Graças à inclusão social em massa, hoje em dia todo mundo tem uma opinião, entretanto poucas pessoas conseguem estruturá-las com o mínimo de coerência. Ler os comentários das pessoas no facebook e no twitter me irritou um pouco, especialmente pela superficialidade dos mesmos e pela falta de embasamento de alguns locutores.
O troll diria: "não gostou? Então faz melhor!"
Faço sim. Mas segura aí, talvez seja o post mais longo que já escrevi aqui no blog. Entretanto, notem que estou descrevendo apenas aquilo que eu vi ou presenciei.
Raimundos
Infelizmente perdi o show dos Raimundos. Nós estávamos saindo do estacionamento (que era muito, muito longe da entrada do festival) quando este começou. Ao invés de falar do show, darei meu testemunho: eles foram uma bandas que mais escutei durante minha adolescência, pois cativavam com sua rebeldia caótica, desbocada e que mistura com sinceridade rock e ritmos brasileiros, com uma originalidade que muitos tentaram simular, mas quase ninguém conseguiu. Sim, o Rodolfo saiu da banda, muitas águas se passaram e os caras perderam o gás, alguns dirão. Não sei, terei que ver o show pela televisão numa reprise. Mas torço para que o Raimundos continue firme e forte.
Duff McKagan's Loaded
Eu gosto do Guns N'Roses, mas não sou um grande fã da banda. Minha irmã do meio é. Já o Duff, depois que ficou limpo, me parece ser um cara legal. Ele era o centro "punk" do GN'R, e na sua banda Loaded isso fica muito evidente. O som dos caras talvez não tenha sido feito para um grande festival com 70 mil pessoas. Se a apresentação fosse num clube menor, como o Manifesto Bar em São Paulo ou o Circo Voador no Rio de Janeiro, talvez a história fosse diferente. Eles tem uma boa pegada, tem ânimo e parecem querer fazer com que a banda dê certo.
O BRMC talvez seja uma das bandas de rock mais interessantes que surgiram nos últimos 10 anos - eles misturam elementos de rock clássico com uma vibração cheia de originalidade e bom gosto. Peso na medida certa, músicas empolgantes, bom instrumental, mas infelizmente o show deles não traduziu isso para o público. Talvez a escolha de repertório da banda não tenha sido a melhor, mas o show meio que passou em branco e não atraiu a maior parte do público que ainda chegava e explorava a área do festival. Mas é uma boa banda e que merece mais atenção.
Down
O quê dizer? Eu amo Pantera. É uma das maiores bandas de metal que já surgiram na história, inclusive costumo dizer que eles fazem parte dos "Renegade Four" do thrash metal (Pantera, Testament, Exodus e Sepultura, caso alguém queira saber, mas isso é coisa minha). Entretanto, o Phil Anselmo não pode passar o resto da sua vida apenas colhendos os frutos do seu trabalho com o Pantera. O Down é legal, tem muitas músicas maneiras, mas no geral, o show foi repetitivo e linear. Não percebi nenhum grande momento, nenhuma grande tirada e Phil, torto de tanto beber (o quê o Rex Brown diria agora se te visse, hein?), apesar de empolgado e feliz, não segurou tão bem a onda.
311
Não vou negar que o instrumental dessa banda era legal. Bem executado, e os frontmen do 311 pareciam estar realmente felizes e empolgados com o show. Mas a grande falha da banda são as músicas deles - que saco! Parece que eles pegaram aquela fórmula fraquinha e repetitiva de grupos como o Linkin Park e Limp Bizkit, jogaram no liquidificador com Simple Plan e Blink 182, deram uma açucarada de animação da Miley Cirus e se prepararam para uma apresentação ao vivo no Disney Channel. Muito fraco, muito piegas.
Sonic Youth
Pra mim o festival começaria a engrenar com o Sonic Youth. A lendária banda americana entrou com tudo no palco, apesar dos cabelos grisalhos e das rugas, com uma energia e pique incríveis. Há de se respeitar o Sonic Youth pela sua capacidade de experimentação e coragem ao longos do anos, o que eles ainda demonstram. A performance do grupo foi tudo o que poderíamos esperar - animada, intensa, autocentrada. Existe uma diferença entre quem faz arte e a compartilha com o mundo e quem apenas tenta agradar os fãs (ouviram isso, 311?).
Primus
Qualquer coisa que eu escreva sobre o Primus não será suficiente. Les Claypool (o baixista, líder e dono do Primus, em termos gerais) é um gênio. Além de ser um instrumentista incrivelmente virtuoso, ele realmente tem jeito de gênio maluco. O som do Primus era, sempre foi e continua sendo louco, incômodo, estranho, inconveniente. O baixo de Claypool dispara uma constante cacofonia de notas em escalas alienígenas para o fã comum de rock e metal, mas ainda assim, tudo parece ter um sentido no Primus, mesmo que não seja aquele que nós esperamos.
Megadeth
Existe um motivo para o Megadeth ser o Megadeth. Há cerca de dois meses atrás o seu líder, Dave Mustaine, operou o pescoço por causa de um problema que o acompanhava há anos e o forçava a tomar analgésicos quase todo dia. Ele é um homem com 50 anos de idade e a turnê na América do Sul ficou ameaçada. Então Mustaine passou dois meses fazendo intensa fisioterapia pra poder vir pra cá. Ele não precisa de dinheiro, já tem suficiente. Não precisa de reconhecimento. O quê ele quer então? A palavra é superação. Não me interessa se você acha que o Dave Mustaine é um babaca, que o Metallica é melhor do que o Megadeth, a lição de verdade estava lá, naquele palco, como em todo show do Megadeth: uma banda tocando o melhor thrash metal possível, sempre. E por isso, Dave Mustaine e sua incrivelmente competetente trupe tem minha total admiração. Foi muito legal ver o Junior (Dave Ellefson) de novo na banda, ele tem uma sintonia muito legal com tudo o que é do Megadeth e nunca deveria ter saído do seu lugar. O Shawn Drover nunca deixa a desejar na bateria e Chris Broderick fica melhor a cada dia, não permitindo que os fãs sintam falta do Marty Friedman. Se você algum dia quiser aprender o que é um verdadeiro show de thrash metal, veja o Megadeth.
Stone Temple Pilots
Eu já tinha recebido referências muito boas do Stone Temple Pilots ao vivo e vou admitir: os caras supreendem em cima do palco. Eu achava que eles seriam meio burocráticos, que dessem "aquela enganadinha" pra cima do público, mas não - a banda além de ter um entrosamento muito raro no meio da música, segura a onda e o pique do show com excelência, equilibrando seus clássicos e hits ao longo da apresentação. Em um palco simples, sem frescuras e sem grande produção, com um público encharcado pela chuva mais forte do dia, o Stone Temple Pilots mostrou que não é uma banda caça-níqueis, que tem muito a mostrar ainda pela frente e muitos anos de estrada, pois eles conhecem os elementos básicos de um show: ter uma banda tocando música para um público. E isso eles executaram incrivelmente bem.
Alice in Chains
Esta era uma das bandas que eu mais aguardava no festival. Não apenas pelos clássicos da minha adolescência, mas pela curiosidade de os ouvir com um vocalista novo, fato raro em bandas "top" (no caso deles, forçado pela morte por overdose do Layne Staley). O início do show apresentou muitas músicas novas, o trabalho do último disco da banda e não empolgou tanto. Mas aí lá pra metade da apresentação, a guitarra do Jerry Cantrell puxa "Man in the Box"... E o SWU vai abaixo, cantando a música em coro. A partir daí, foi um clássico atrás do outro e o fato do novo vocalista William DuVall cantar as músicas com tanta propriedade só deixaram o público feliz e com a certeza de que depois daquele momento, o Faith no More não poderia vacilar para superar uma apresentação tão intensa.
Faith no More
Mike Patton e sua trupe não vacilaram. Aliás, pelo contrário. O show começou com estranheza, pois toda a banda estava vestida de branco e havia muitos vasos de flores espalhados pelo palco, como se este fosse um jardim. A maior parte do público ficou dizendo que "eles passaram na Bahia" ou então "eles montaram um terreiro de macumba no palco", mas a impressão que eu tive, bastante nítida, era que aquela produção simulava uma festa tradicional grega. No estilo "Zorba o Grego", inclusive o Mike Patton em vários momentos imitou uma dança que me parecia mais ser grega do que macumba. Mas o que importa é a música, não é verdade? Claro que não. O Faith no More é uma banda gigante no palco com sua música, mas o Mike Patton é a única estrela. Ele rouba a cena, esperneia, grita, se joga no chão, pula em cima dos câmeras, cospe, baba, tira sarro do público... Ele não pára nem um minuto e entre urros e exclamações desconexas, canta com uma voz soberba. Sim, a banda é formada por cinco caras, mas no palco você praticamente só vê Patton com outros quatro amigos. E olha que estamos falando de um grupo que tem Mike Bordin, Billy Gould e Roddy Bottum, que podem fazer parte de qualquer "dreamteam" musical. Em suma, foi um show quase perfeito, com setlist ordenado cuidadosamente e na medida certa para manter a platéia de pé e firme madrugada adentro.
Festival SWU
Olha, o local dos shows era muito legal. A organização com os dois palcos na mesma área, com intervalo de no máximo dez minutos entre cada apresentação das bandas principais é um sistema que funcionou muito bem na segunda-feira dia 14/11. Os problemas técnicos limitaram-se ao palco onde tocaram Load, Down, Sonic Youth, Megadeth e Alice in Chain, pois ao longo do dia o sistema de PA ficava aumentando e abaixando o som bruscamente, ou então reduzindo os agudos do nada. Tirando isso, tecnicamente, o festival está de parabéns.
A oferta de alimentos e bebidas era farta e não era tão cara como em eventos similares, tal o "Rock in Rio." Um copo de água custava R$ 5 e um copo grande de cerveja Heineken saía por R$ 7. Eu mesmo tomei uns 4 ou 5 copos (de cerveja, claro). Quem está acostumado a frequentar shows e eventos do tipo sabe que os preços por uma cerveja, água ou refrigerante, podem ser bem piores. A área dos shows, asfaltada, foi de uma providência sem tamanho, pois mesmo com toda a chuva que caiu ao longo do dia nós não fomos forçados a chafurdar na lama.
O mesmo não aconteceu com o estacionamento.
O estacionamento do SWU era num PASTO. Sim, isso mesmo. Nós paramos os carros na grama meio enlameada e de lá tivemos que andar muito até chegar na entrada do festival - a saída do estacionamento era muito, mas muito distante da entrada do evento. E no retorno ao carro uma surpresa: o estacionamento virou um lamaçal e os carros que tivessem mais de duas pessoas dentro estavam atolando ali. Sem nenhum suporte além de um trator e vários funcionários completamente desnorteados, as pessoas tinham que tirar seus carros do estacionamento na garra e no braço mesmo.
Pra piorar, os policiais de Paulínia estavam multando quem parasse na rotatória, logo na saída do estacionamento, para pegar seus amigos que vinham andando da saída do festival. Eu vi uma policial multando um monte de gente silenciosamente, realizando todas as anotações escondida - bastava que você parasse seu carro por 10 segundos, que tomava uma multa.
Além disso, foi um inferno chegar no SWU de carro. Todas as placas indicativas estavam mal posicionadas e nós demos muitas voltas pra conseguir achar o tal "estacionamento" acima mencionado.
A música oferecida pelo evento foi soberba, no balanço geral. Mas se o próximo SWU tiver uma estrutura logística tão boa quanto a do atual, ano que vem a vontade que eu tenho é de ficar em casa. Mas vá lá, quem sabe eles não anunciam o show de reunião do Savatage ou do Black Sabbath? Aí não tem jeito. Viro novamente um refém no pasto.
Fotos: Divulgação, Jornal do Brasil e Pedro Carrilho, Marcos Hermes, Caroline Bittencourt, Flora Pimentel para o Território da Música.
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