De repente a campainha toca e um homem vestido com roupas de chauffer está me esperando à porta. Eu mal posso me vestir e acabo parando dentro de uma limousine muito chique. O chauffer arranca enquanto eu abro uma garrafa de champagne francesa, o que combina perfeitamente com palavras como limousine e chauffer.
Paramos em frente a um prédio de luxo. Pego elevador até a cobertura onde me deparo com um apartamente regiamente decorado com o melhor que há no mundo. Uma música ambiente está tocando, algo como slow jazz, já é noite e o apartamento só é iluminado por algumas velas espalhadas estrategicamente pela grande sala.
Mal termino de sentar num sofá de couro escuro, aparece-me uma mulher. Era uma balzaquiana, provavelmente no fim da casa dos trinta, porém muito conservada e muito bonita. Ela parecia ser o tipo de mulher capaz de pagar pelos melhores tratamentos de beleza do mundo, então talvez fosse muito provável que sua idade real fosse bem maior do que eu imaginava. Mas dane-se, ela parecia com a Monica Bellucci e estava usando um vestido com uma quantidade ridiculamente mínima de tecido.
"Você está confortável, Bart?" ela perguntou com uma voz rouca, sedutora e cheia de confiança. Eu fiquei um pouco atordoado.
"Sim, a champagne estava boa. Mas quem é você?"
"Você é um homem inteligente, com certeza é capaz de descobrir com apenas algumas dicas a mais. Me acompanhe até a varanda, querido". Então ela se dirigiu a um portal que por sua vez levava a uma varanda com ampla visão para toda a cidade. Parecia que estávamos no topo do mundo.
"Você vê aquela rua ali embaixo?" e apontou para uma avenida larga, com metade das faixas em obra.
"Sim, aquela avenida está fechada há quase um ano. A obra nunca termina." Em seguida ela apontou para um edifício velho, quase do outro lado da cidade.
"E aquele prédio, sabe do que se trata?"
"É um hospital público que saiu nas manchetes há algumas semanas atrás. Parece que morreram treze bebês recém-nascidos ali em menos de um mês."
Ela olhou para mim com algo parecido como júbilo nos olhos. Depois apontou novamente para outra área da cidade. "E aquela coisa feia ali, sabe o que é?"
"Aquela é considerada a favela mais violenta da América Latina." Naquele momento eu tive a certeza do que estava acontecendo, ou pelo menos de quem estava na minha frente. Ainda assim decidi confirmar. "Tudo isto que você me mostrou, é tudo obra sua, não?" Ao invés de responder com palavras, ela firmou um sorriso de canto de boca e acenou positivamente com a cabeça. Neste momento não tive mais dúvidas.
"Você é a Política."
Vamos lá, não é como se ela fosse uma política específica, ou uma personalidade individual. Ela era a personificação completa da Política que se pratica hoje em dia no Brasil. E estava ali, na minha frente. Eu não poderia ficar mais enojado.
"O quê você quer comigo?"
"Meu querido Bart, tente entender... Recentemente chegou ao meu conhecimento que você anda meio decepcionado comigo. Até é compreensível, com tudo o que está acontecendo no país nos últimos anos ou décadas, bem... Eu entendo. Mas eu também quero que você veja o meu lado. Eu gosto de você. Na verdade, eu te amo. Você é o tipo de pessoa que me enxerga como eu realmente sou, que pode me abraçar, que pode me possuir. Basta apenas ceder aos meus encantos."
Neste momento perdi as estribeiras. "Nunca, sua puta suja." Ao pronunciar estas palavras, a Política pareceu sentir um tremor, um lampejo de prazer. "Continue," ela disse. "Continue falando assim, eu adoro sujeita, adoro sacanagem."
"Você não passa de uma puta suja que gosta de foder com o povo." Ela pareceu gostar mais ainda, chegou a se retorcer. Então a Política soltou as alças do vestido na altura dos ombros, deixando seus fartos seios à mostra. "Vem pra mim, fica comigo. Fala sujo que eu gosto, eu sou sua, seja meu." Olhei aquela bela visão, languidamente oferecida como um banquete numa única bandeja. Agarrei sua cintura com minha mão esquerda e ergui sua perna com minha mão direita, empurrando-a junto ao meu corpo para nos encostarmos no parapeito. Sua pele era mais suave do que imaginava, o toque sedutor e macio. Seus belos olhos mesmerizavam e ao mesmo tempo me cativavam.
"Desgraçada, ceifadora de vidas, vadia dos mercadores da morte e da violência. Meretriz da injustiça, vagabunda da infelicidade alheia." Cada vez mais ela parecia crescer e se entregar à delícia do próprio prazer, do orgulho e do reconhecimento de seu caráter sujo. Ergui sua perna esquerda junto com a direita e pressionei seus quadris contra os meus, erguendo-a do chão. Ela me envolvia, me contaminava, me dominava.
"Vai, continua, não para." Ela realmente queria mais. Eu poderia dar, eu a tinha em meus braços, sentia sua pele quente, seu corpo ardente de prazer. Então decidi que era hora e disse: "Política, puta suja, isto é o que você merece". Com apenas um movimento ergui suas pernas mais alto e com isso ela caiu do parepeito. Parecia gritar enquanto caía em direção ao concreto, mas eu não ouvi nada. Apenas observei com grande deleite sua expressão atônita, incrédula, que se encerrou com um forte estalo rubro na calçada. Neste mesmo instante a obra na avenida se completou, o hospital recebeu verbas e os bebês pararam de morrer e os moradores da favela passaram a viver num lugar mais justo e com menos desigualdade.
Aí meu despertador tocou. Eu acordei, levantei e tive um ótimo dia. Poucas coisas na vida são tão boas como acordar de bom humor após ter-se um sonho com final tão feliz, realmente é uma forma maravilhosa de se começar o dia.
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