01/09/2009

Juiz de Direito

Uma rapidinha meio longa. Antes do almoço fui ao banco pagar as contas, como quase todo mundo faz no início do mês. Na saída, veio a clássica paradinha na porta giratória porque uma perua qualquer estava com a bolsa cheia de objetos metálicos, carregada com uma quantidade de bijuterias capaz de garantir um mês de almoço para uma família pobre e assim por diante.

Eu sei que é chato. Os banco são instituições nojentas, eles só querem nosso dinheiro e nos individar ainda mais. Por isso eles se cercam de medidas de segurança, não para nos proteger, mas para zelar pelo seu próprio patrimônio. Essas portas giratórias que ficam travando são um pé no saco, mas não adianta reclamar do gerente do banco, muito menos xingar o vigilante - eles estão apenas fazendo o trabalho deles. Imagine se meus fornecedores me xingassem toda vez que eu ligasse para cobrar o atraso num pedido (bem, já aconteceu, mas não vem ao caso).

Então a tal perua sai reclamando, desiste de entrar no banco e manda o homem que está com ela entrar e resolver tudo por eles dois. Ela começa a fazer comentários sarcásticos para a fila formada atrás deles (por culpa exclusiva da teimosia dela própria), do tipo: "cuidado para não ser baleado, essa gente aí só sabe resolver as coisas na base da grosseria e violência". A vigilante, ao contrário da perua, foi uma lady, comportando-se exemplarmente e sem perder a compostura.

O "amigo" dela se adianta, a porta giratória trava novamente. A vigilante pede que ele dê um passo para trás, ele abre a carteira e com uma expressão mista de nojo e zombaria puxa um documento e aperta contra o vidro para que ela veja. Como eu estava logo ao lado, pude ler as palavras: "Juiz de Direito".

"Filho-da-puta", pensei. "Ele pode dar voz de prisão para desacato, afinal de contas é uma 'autoridade', né" também pensei. Ele entrou, eu passei pela porta e assim que saí do banco exclamei alto para quem quisesse ouvir: "Juiz é foda, dá carteirada para entrar mas a merda dele fede igual à de todo mundo." Aí a fila, que já era grande, se revoltou e começou a xingar o cara, que estava lá dentro mas provavelmente não conseguia ouvir.

Eu fui pro restaurante almoçar refletindo sobre a inversão de valores. Um cara que obviamente não consegue respeitar as pessoas que exercem seu ofício mais básico, é considerado, pelo menos legalmente, como um exemplo de integridade e saber em sua área. Mas no fim das contas este juiz de hoje conseguiu comprovar algo que eu já suspeitava há tempos, mas nunca tinha visto de forma tão vídida, na prática. Aquele cara não respeita a sociedade, deve mamar nas suas tetas até que elas estejam secas. Se você não conseguer conviver com outras pessoas sem necessariamente agir no mesmo patamar delas, sem precisar de carteiradas, sem dizer o clássico "você sabe com quem está falando?", se você não sabe dialogar e argumentar sem fazer uso de uma posição de poder, você não passa de um merda. E jamais merecerá o meu respeito, porque na minha cabeça e no meu coração você não pode dar carteirada.

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